MANAUS
Conheça a igreja cristã de Manaus que aceita membros de diferentes orientações sexuais
06/01/2019 às 15:27 - Atualizado em 06/01/2019 às 16:19
Na contramão de qualquer corrente conservadorista, em alta nos últimos tempos, uma nova igreja evangélica em Manaus está com um projeto baseado na inclusão de qualquer orientação sexual, seja ela assexual, bissexual, heterossexual, homossexual ou pansexual.
Denominada “Nova Igreja Apóstolica Inclusiva (Niai), ela tem o templo localizado na rua Aires de Almeida, 828, bairro da Raiz, na Zona Sul de Manaus, e está sob a liderança do pastor André Rodrigues.
A nova denominação começou a funcionar em nível de templo local em 7 de julho do ano passado, mas desde 14 de janeiro já atuava em formato de células, explica o pastor. Atualmente, de 15 a 20 membros se reúnem nos dois eventos principais da igreja: os estudos sobre homoafetividade e Bíblia Sagrada que são realizados aos sábados, a partir das 19h, e o culto dominical de celebração, iniciando às 18h30.
“A Niai não crê na ‘ideologia de gênero’, e achamos que isso foi algo criado pela Igreja Católica, que é conservadora, escorados nas escrituras da Bíblia Sagrada para convencer as pessoas de que homem é homem e mulher é mulher, e nada e nem ninguém pode dizer o contrário, porque a Bíblia diz dessa forma fazendo com que as pessoas se sintam excluídas dos espaços e locais religiosos. Mas isso é uma forma errônea de interpretar a Bíblia. Viemos para impor a verdade, que a ideologia de gênero não importa para Deus”, explica o pastor André Rodrigues, que também é conhecido como “Hennedy”.
Sob os lemas “Onde há amor não há pecado” e “Vida com Deus em todas as cores”, na Niai “a intenção não é reunir só público LGBT, mas toda a família. Um casal hetero é aceito tanto quanto um homo e precisamos ser referência, com relacionamento saudável, mas sem práticas do mundo”, explica o religioso.
“A Niai veio para abraçar essa causa e não fazendo acepção de pessoas, como diz na própria Bíblia. Não acreditamos na ideologia de gênero, mas acreditamos e apoiamos a causa da identidade de gênero, onde as pessoas podem se identificar da forma que lhe convém, seja homem, mulher, trans, binário, não-binário e etc. E tudo isso podemos comprovar com respaldo na Bíblia. No nosso caso, os LGBTs em Manaus são um público sofrido, que para se distrair, para ter vida melhor, acabam se distanciando da fé”, conta ele.
Fiel tem experiência marcante
O pedagogo May Lima, 23, é um dos frequentadores da Nova Igreja Apostólica Inclusiva.Segundo ele, a experiência na igreja tem sido maravilhosa, pois foi criado em berço evangélico e sempre foi membro de igrejas convencionais. “Mas depois passei a ser excluído dessas igrejas pelo fato de ser diferente e gostar de pessoas do mesmo sexo”, contao pedagogo. “Minha família é bastante religiosa e me ama bastante, mas abomina minha orientação sexual e diz que isso acontece por conta de ‘coisas malignas’. Daí eu resolvi sair da igreja que eu frequentava porque estava me sentindo rejeitado. Depois fiz uma pesquisa na internet e observei que havia igrejas inclusivas em São Paulo, mas não encontrei aqui em Manaus. Por conta do pastor Kennedy, eu conheci a Igreja Inclusiva e fui evangelizado por ele, com quem estou noivo há três anos”, relembra.
Movimento cresceu com as redes sociais
O religioso André Rodrigues confessou que a nova igreja enfrenta rejeição por parte da própria ala LGBT. “Sabemos que é algo novo para a sociedade e muitos dos cristãos não aceitam. E a rejeição que estamos sofrendo não é do público hétero, mas do próprio público LGBT, que demora para se aceitar e é o primeiro a nos rejeitar por vir da Igreja Católica. Mas entendemos isso, pois o motivo de não aceitarem é o aprendizado católico que tiveram. Muitos vão para religiões de matrizes africanas e só depois descobrem que há uma igreja inclusiva”, comenta.
Segundo ele, as redes sociais foram fundamentais para a propagação da ideia da Nova Igreja Apostólica Inclusiva. “Boa parte dos membros da nossa igreja vieram de outras denominações e de pessoas que nos acompanham via Facebook. Ou seja, a grande maioria é oriunda de redes sociais e muitas dessas pessoas não são assumidas, mas querem se encontrar”, diz o pastor que começou fazendo sua pregação nos pontos turísticos de Manaus. “E a obra não pode parar. Queremos expandir o trabalho ministerial e ampliar nossa atuação”, afirma.
O pastor relembrou a história relatada na Bíblia sobre as cidades de Sodoma e Gomorra: vez por outra a destruição delas é associada ao homossexualismo, numa interpretação polêmica e questionada veementemente pelo pastor. “Se levarmos para questão histórica e cultural, a própria homossexualidade não é achada ali. Não há indícios, na Bíblia, de que Sodoma e Gomorra eram cidades homossexuais”, explica. “Eu não posso ser pago por aquilo que eu sinto por alguém”, comenta Rodrigues.
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